O que a prisão de Braga Netto e o Viagra ensinam sobre o golpismo militar

Após o segundo turno, os comandantes das Forças Armadas deram uma passada de pano monumental nos movimentos golpistas que acampavam em torno de quartéis e trancavam rodovias. Defenderam, em nota pública, que os atos eram legítimos, ignorando que eles não estavam pedindo mais arroz e feijão, educação ou saúde, mas um golpe de Estado com participação e prisão do presidente eleito. Esses “atos legítimos” desaguaram na tentativa de golpe.

Dezenas de acampamentos montados à frente de instalações militares em cidades de todo o Brasil após as urnas darem a vitória a Lula serviram para abastecer a mobilização golpista de 8 de janeiro. E o acampamento golpista em frente ao QG do Exército também serviu de cabeça-de-ponte para o ataque à sede da Polícia Federal e a queima de carros e ônibus no dia 12 de dezembro e o planejamento da bomba colocada em um caminhão de combustível a fim de explodir o aeroporto de Brasília na véspera de Natal, além do próprio 8 de janeiro.

Em uma reunião com Bolsonaro, quando as Forças Armadas foram chamadas a aderir o golpe, no final de 2022, o almirante Garnier teria colocado a Marinha à disposição, segundo depoimentos do general Freire Gomes e do brigadeiro Baptista Júnior, que se negaram a participar do crime.

Aliás, por conta disso, Braga Netto chamou o general Freire Gomes de “cagão” em uma conversa por mensagem com um outro golpista, Ailton Gomes, e soltou seus cachorros para cima do comandante.

Como já disse aqui um rosário de vezes, nunca curamos as feridas deixadas por 21 anos de ditadura. Tapamos com um curativo mal feito, ao qual chamamos de transição lenta, gradual e segura. Mas essas feridas continuam fedendo, apesar dos esforços estéticos. Não apenas pelo apoio e a anuência de membros das Forças Armadas à tentativa de golpe, mas toda vez que o Estado mata – não como um infeliz efeito colateral da proteção da população ou de si mesmo, mas como execução de uma política de limpeza e contenção social que foi aprimorada durante a Gloriosa.

Forças Armadas são importantes para qualquer país, desde que saibam quem devem proteger. A sua potência está na capacidade de respeitar a Constituição Federal, não de obter benefícios em troca de ser usada para atender às necessidades de um governo de plantão. Se militares não foram presos pelo golpismo de 1964, que o sejam pelo de 2022/2023.

noticia por : UOL

24 de janeiro de 2025 4:46

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