Eventuais pagamentos para utilização de algumas das quadras e a associação da Orla com o consumo de alimentos também são vistos com ressalvas por especialistas. Matheus de Vasconcelos Casimiro, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que as instalações trariam mais benefícios à quem tem uma renda passível de usufruí-las. “Sabemos que não é a realidade de grande parte da população da cidade de SP”, diz. “Toda a descrição [disponível até o momento sobre a Orla] está vinculada ao que será vendido ou a oferta de eventos que deverá ter nessa área”.
[A Orla está] Seguindo a tendência do que se tem visto nos diversos parques cuja gestão tem sido realizada pela iniciativa privada, em que várias ações de melhoria dos parques e criação de equipamentos estão vinculadas à geração de receita para viabilizar a manutenção da parceria ou a margem de lucro da empresa responsável pela área, como cobrar estacionamentos, gerar eventos pagos ou aumentar a oferta de alimentos Matheus de Vasconcelos Casimiro
Para Camisiro, o foco no consumo e nos eventos “inibe a diversidade de usos do espaço público”. “O problema principal é associar o usuário do parque como um cliente de consumo. É um processo gentrificador [em que há revitalização e transformação social em uma área urbana de habitação popular, que gera aumento no valor dos imóveis e passa a atrair moradores com maior poder aquisitivo], que torna o espaço público uma área voltada apenas àqueles que têm a condição de consumir os produtos ofertados”.
Casimiro afirma que os quiosques gastronômicos previstos fazem parte deste processo. Segundo Rigotto, a entrega de novas opções de alimentação é uma das medidas previstas e obrigatórias no edital de concessão.
Segundo o professor, as autoridades e as concessionárias têm o desafio de viabilizar bons projetos em parques públicos, com espaços propícios à ocupação da população, mantendo as condições de livre ocupação. ” [O ideal é não haver] associação a consumo. Usuário não é cliente. A cidade de SP tem vários exemplos de parque de orla, como o Estadual Ecológico do Guarapiranga, e os Municipais do Guarapiranga, Cantinho do Céu (orla da Billings) e o Praia do Sol. Esses são espaços destinados a todas as rendas e muito utilizados pela população de baixa renda, e são exemplos de espaços livres públicos, onde há o uso da orla, e que não estão gentrificados ou associados ao consumo”.
Segundo Eduardo Rigotto, todas as implantações de equipamentos no parque devem ser submetidas aos órgãos competentes, conforme determina o edital. “Após a aprovação do Concedente, a Orla Brasil realizou os trâmites para aprovação junto à Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento e à Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo)”. A Companhia é envolvida nos projetos no Villa-Lobos, já que o parque foi construído em um terreno anteriormente utilizado como depósito de lixo do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), também na zona oeste. Ainda segundo Rigotto, a Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), realiza a fiscalização da operação no âmbito do contrato de concessão.
noticia por : UOL