Imagine que você comprou um apartamento há alguns anos com uma taxa de financiamento muito vantajosa para a época. Agora, alguém te oferece outro imóvel, dizendo que a taxa desse novo financiamento é muito melhor do que a que você tem. A proposta parece tentadora, mas tem um detalhe: para sair do seu imóvel atual, você precisa vendê-lo rapidamente e pode acabar aceitando um valor menor do que ele realmente vale. No fim das contas, a troca pode não ser tão vantajosa quanto parecia no primeiro momento. Essa é a lógica que muitos investidores enfrentam ao pensar em vender títulos de renda fixa antes do vencimento.
Títulos de renda fixa podem ser marcados na curva ou a mercado. Os títulos marcados a mercado já refletem as mudanças nas taxas de juros e seu preço foi ajustado para baixo por isso. Mas os títulos marcados na curva, como CDBs, ainda são contabilizados com a taxa original de aquisição. E é justamente nesses casos que surge a dúvida: se as taxas subiram, faz sentido vender um título antigo e comprar um novo com taxas melhores?
A resposta não é tão simples. Muitos investidores que aplicaram em CDBs prefixados ou referenciados ao IPCA nos últimos anos veem seus títulos com taxas aparentemente defasadas em relação às atuais. Mas antes de decidir vender e reaplicar, é preciso entender um ponto crucial: vender um título antes do vencimento nunca será tão vantajoso quanto comprar um novo no mercado que tenha o mesmo vencimento. Isso acontece porque existe um spread entre compra e venda, natural de qualquer mercado. Assim como em qualquer mercado, quem vende um ativo antes da hora precisa aceitar um desconto para conseguir liquidez imediata.
A decisão de vender antecipadamente precisa considerar três cenários principais. O primeiro é o caso em que as taxas de juros continuam subindo até o vencimento do seu título. Se isso acontecer, o novo título que você comprar pode acabar ficando também defasado em pouco tempo, e a troca pode não trazer vantagens reais. O segundo cenário é o das taxas permanecerem elevadas até o vencimento do seu título. Nesse caso, a venda antecipada não faz sentido, pois o ganho adicional com a troca será negativo ou nulo devido ao spread de compra e venda.
O terceiro cenário é quando as taxas caem antes do vencimento. Aqui, a venda pode valer a pena, mas desde que outra condição seja atendida. A condição é que o reinvestimento seja feito em um prazo longo o suficiente para que a diferença de taxa ou spread compense a troca.
Reforço, a condição essencial para valer a pena é que você realmente acredite que os juros vão cair antes do vencimento. Isso significa que, ao vender o título e reaplicar, você estaria se antecipando a essa queda e garantindo uma taxa mais alta enquanto ainda é possível.
Para ilustrar, imagine um título comprado há dois anos com taxa de IPCA + 5% ao ano. Se hoje é possível encontrar títulos pagando IPCA + 7% a.a., a troca parece interessante. Mas ela só compensa se os juros caírem e esse novo título passar a ser negociado a IPCA + 6% a.a. no mercado antes do vencimento. Assim, quem antecipou a troca garantiu um rendimento melhor do que quem esperou e só conseguiu reinvestir em uma taxa de IPCA+6% ao ano.
Se você acredita que os juros vão permanecer elevados ou que ainda podem subir, a melhor estratégia pode ser simplesmente esperar até que o cenário se torne mais claro ou até o vencimento do título. Assim como na compra e venda de um imóvel, a troca só faz sentido quando há uma vantagem clara e compensadora. No mercado de renda fixa, vender antes do vencimento pode parecer uma boa ideia no calor do momento, mas sem um raciocínio bem estruturado, pode acabar sendo uma decisão que reduz seu retorno em vez de aumentá-lo. Antes de agir, reflita: o ganho justifica o custo da mudança?
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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noticia por : UOL