Uma das evangélicas mais poderosas e com maior acesso a Donald Trump hoje se apresenta desta forma pelo X: “Eu tenho uma vida ótima… e você também pode ter!”. Paula White é pastora de uma megaigreja na Flórida, conselheira espiritual do presidente e, mais recentemente, lidera o “gabinete da fé” criado por Trump. O que é importante saber sobre ela?
Cresci entre livros de pregadores e pastoras como Paula White. Por isso, minha infância e adolescência foram cercadas por livros sobre saúde emocional e financeira. Chegando à vida adulta, segui caminhos teológicos diferentes dos meus pais, porém entendo de perto e por dentro como funciona a mente de quem segue e ouve pregadores como a conselheira espiritual de Trump.
Paula White era uma dessas pregadoras: bonita, nada tradicional, com uma fala e história envolventes. Nos anos 2000 ela se tornou uma verdadeira “pastora de celebridades”. Conduzia estudos bíblicos para os Yankees, time de beisebol de Nova York. Em 2003, Michael Jackson, um mês depois de ter sido preso por acusações de abuso de menor, convocou Paula White para seu rancho na Califórnia para receber apoio espiritual.
A relação entre Trump e White começou em 2002, quando ele a assistiu em seu programa “Paula Today” e entrou em contato com ela. O programa começou em 2001 e em 2006 já era transmitido em nove canais televisivos dos Estados Unidos. O programa foi um fenômeno midiático, já foi transmitido na Fox, no Black Entertainment Television, além de outros canais cristãos consagrados na televisão americana.
Se compararmos White a um pastor conhecido brasileiro, alguns poderiam associá-la ao Silas Malafaia. Porém, antes de seu envolvimento político, White poderia se comparar a um Deive Leonardo dos Estados Unidos. Sua fala emocionada, gentil e envolvente, e sua história de superação de traumas e abusos da infância tornaram-na uma pessoa querida no mainstream americano. Ela era uma das únicas pastoras brancas de grande alcance a falar contra o racismo no sul dos Estados Unidos.
Trump e White mantiveram contato desde que se conheceram. Por anos ela conduziu estudos bíblicos e reuniões de oração para o atual presidente americano, seus amigos e familiares. Contudo, White é uma conselheira que causa dissenso na base eleitoral de Trump.
Diversos pastores, apoiadores de Trump, ficaram descontentes com a escolha de White para chefiar esse gabinete. Alguns discordam dela teologicamente, por ela promover a teologia da prosperidade. Outros rejeitam sua indicação por não acreditar que mulheres podem ser ordenadas pastoras.
Segundo o Public Religion Research Institute, Trump é apoiado pela maioria dos evangélicos brancos dos Estados Unidos (80%), mas escolheu para o cargo uma mulher cuja teologia é amplamente rechaçada por lideranças cristãs americanas.
A reação dos evangélicos a essa nomeação serve como um lembrete de que a coalizão religiosa ao redor de Trump está longe de ser uniforme. A realidade é que os trumpistas cristãos são uma aliança de facções que frequentemente discordam entre si e que o apoia por diferentes razões e em busca de diferentes objetivos.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
White é acima de tudo alguém que demonstra ser leal a Trump. No dia 6 de janeiro de 2021, data do ataque ao Capitólio, White abriu as manifestações com uma uma oração de forte tom nacionalista cristão e abertamente militante. Nessa oração e em outros discursos políticos-religiosos de Paula, ela associa os momentos políticos de Trump a batalhas espirituais entre o bem e o mal.
Quando questionada sobre a possível contradição entre os valores cristãos e as políticas de imigração adotadas durante o governo do ex-presidente, ela defendeu as medidas, argumentando que se tratava de um cuidado necessário com as fronteiras. “A maioria dos americanos concorda com isso!”, afirmou.
Durante os próximos quatro anos, cristãos de todos os espectros políticos serão confrontados a pensar profundamente sobre sua fé. White estará presente para santificar as decisões e atitudes de Trump. Os desafios que o governo Trump colocará diante dos cristãos exigirão clareza moral de todos os que professam essa fé para criticar quando ela é instrumentalizada pelo poder.
noticia por : UOL