Estudantes da universidade de Columbia, nos EUA, são investigados por manifestações pró-Palestina após ameaças de Trump


Nas últimas semanas, novo comitê disciplinar universitário enviou notificações a dezenas de estudantes por atividades que vão desde o compartilhamento de postagens em mídias sociais até a participação em protestos ‘não autorizados’. Maryam Alwan, uma estudante da Universidade de Columbia que recebeu uma notificação disciplinar da escola acusando-a de ajudar a publicar um artigo de opinião crítico a Israel
AP Photo/Richard Drew
Estudantes da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, que fizeram críticas a Israel e participaram de manifestações pró-Palestina estão sendo alvo de investigação, segundo a agência de notícias Associated Press.
Nas últimas semanas, o Escritório de Equidade Institucional, novo comitê disciplinar universitário, enviou notificações a dezenas de estudantes por atividades que vão desde o compartilhamento de postagens em mídias sociais até a participação em protestos “não autorizados”.
Um dos notificados é a Maryam Alwan, veterana da Universidade Columbia. Ela estava visitando a família na Jordânia durante as férias de inverno quando recebeu um e-mail da universidade acusando-a de assédio.
A suposta principal infração? Escrever um artigo de opinião no jornal estudantil Columbia Spectator pedindo desinvestimento de Israel e que a universidade restringisse os laços acadêmicos com Israel.
Os investigadores defendem que o artigo pode ter submetido outros alunos a “conduta indesejada” com base em sua religião, nacionalidade ou serviço militar. As possíveis sanções pela violação da política escolar, de acordo com o comitê, variam de uma simples advertência até a expulsão.
“Parecia tão distópico ter algo passando por edições rigorosas, apenas para ser rotulado como discriminatório porque é sobre a Palestina. Isso me fez não querer mais escrever ou dizer nada sobre o assunto”, afirma Alwan, estudante de estudos comparativos palestino-americano.
De acordo com as políticas do escritório, os alunos são obrigados a assinar um acordo de não divulgação antes de falar com os investigadores.
Mahmoud Khalil, um estudante de pós-graduação que atuou como negociador para manifestantes pró-palestinos durante o acampamento montado no campus no ano passado, se recusou a assinar o acordo.
Ele conta que, após a recusa, a universidade ameaçou impedi-lo de se formar, mas recuou quando ele apelou da decisão por meio de um advogado. Mahmoud foi acusado pelo escritório de má conduta apenas algumas semanas antes de sua formatura em dezembro.
“Tenho cerca de 13 alegações contra mim, a maioria delas são postagens de mídia social com as quais não tive nada a ver. Eles só querem mostrar ao Congresso e aos políticos de direita que estão fazendo alguma coisa, independentemente do que está em jogo para os estudantes. É principalmente um escritório para esfriar o discurso pró-Palestina”, diz.
Faixa colocada em acampamento na Universidade de Columbia, em Nova York, manifesta solidariedade aos palestinos de Gaza
Stefan Jeremiah/AP
Na segunda-feira (3), agências federais anunciaram que considerariam cortar US$ 51 milhões em contratos com a universidade – junto com bilhões em subsídios adicionais – devido à sua “contínua inação diante do assédio implacável de estudantes judeus”.
Os republicanos da Câmara dos EUA também lançaram sua própria revisão do processo disciplinar de Columbia e deram aos administradores até 27 de fevereiro para entregar os registros disciplinares dos alunos por quase uma dúzia de incidentes no campus, incluindo protestos que alegaram “promover o terrorismo e difamar os militares dos EUA”.
Um porta-voz da Columbia se recusou a especificar quais registros, se houver, foram entregues ao Congresso e se eles incluíam os nomes dos alunos, acrescentando que não poderia comentar sobre investigações pendentes.
Em uma declaração no começo da semana, a universidade afirmou:
“Estamos determinados que apelar, promover ou glorificar a violência ou o terror não tem lugar em nossa universidade”.
O novo departamento disciplinar está alarmando estudantes, professores e defensores da liberdade de expressão, que acusam a escola de ceder às ameaças do presidente Donald Trump de cortar o financiamento para universidades e deportar “agitadores” do campus.
“Com base em como esses casos prosseguiram, a universidade agora parece estar respondendo à pressão governamental para suprimir e reprimir a liberdade de expressão protegida. Ela está operando como um negócio ao proteger seus ativos antes de seus alunos, corpo docente e funcionários”, lamenta Amy Greer, uma advogada que está aconselhando alunos acusados ​​de discriminação.
Trump ameaça cortar financiamento federal
Donald Trump anunciou em sua rede social Truth nesta terça-feira (4) que todo o financiamento federal seria interrompido para escolas e universidades que permitirem “manifestações ilegais”. “Os agitadores serão presos e/ou deportados permanentemente para seus países de origem”, martelou o bilionário.
“Os estudantes americanos serão expulsos ou, dependendo de seu crime, presos”, continuou o presidente dos Estados Unidos nesta terça-feira, sem especificar a quais manifestações estava se referindo.
No ano passado, vários campi americanos foram palco de manifestações pró-Palestina, que já haviam sido fortemente denunciadas por Donald Trump durante sua campanha para a Casa Branca.
Na segunda-feira (3), o governo dos EUA também considerou rescindir contratos no valor de mais de US$ 50 milhões (quase R$ 300 milhões) com a prestigiosa universidade nova-iorquina de Columbia, alegando que a instituição não protegia seus estudantes judeus.
Reformular o sistema educacional?A Secretária de Educação dos EUA condenou a “aparente incapacidade da Universidade de Columbia de cumprir sua responsabilidade nos termos desse acordo fundamental”, o que, segundo ela, “levanta questões muito sérias sobre sua capacidade de continuar a trabalhar com o governo dos Estados Unidos”.
De modo mais geral, o bilionário anunciou claramente sua intenção de reformular o sistema educacional americano, desvinculando o governo federal em favor dos estados, que já detêm a maior parte dos poderes nessa área.
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Em um momento em que alguns estados conservadores do Sul estão restringindo o conteúdo educacional sobre temas como racismo e sexualidade, Donald Trump chegou a anunciar sua intenção de acabar com o Departamento de Educação federal. Enquanto isso, ele nomeou para a pasta, nesta terça-feira, Linda McMahon, ex-diretora da principal empresa de luta livre dos Estados Unidos. 
“Woke”O sistema educacional é amplamente descentralizado nos Estados Unidos, mas o governo federal mantém uma influência considerável por meio dos fundos que aloca, especialmente para escolas em áreas pobres ou para crianças com dificuldades de aprendizado.
Donald Trump já pôs fim a vários tipos de financiamento para escolas, como parte de suas iniciativas voltadas para pessoas transgênero ou políticas de diversidade.
A educação é um campo de batalha fundamental para os conservadores nos EUA, que acusam as escolas de doutrinar as crianças com ideias “woke”, um termo pejorativo para visões progressistas sobre sexualidade e raça.
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Fonte: G1

6 de março de 2025 13:58

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