Eduardo Bolsonaro trai a pátria ao usar EUA para intimidar Judiciário brasileiro, diz Lindbergh Farias

O novo líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindebergh Farias (PT-RJ) afirma que não há contradição entre a sua militância por Lula Livre da década passada, quando o hoje presidente estava preso, e o apelo à prisão de Jair Bolsonaro (PL).

Segundo ele, o ex-presidente faz parte de uma “facção de extrema-direita incrustada entre os militares” que tem origem em Silvio Frota, ex-comandante do Exército que “tentou dar um golpe contra Ernesto Geisel” nos anos 1970, quando o então ditador promovia a abertura no Brasil.

“É a turma dos porões, do terror”, que agora tentou “matar o Lula, matar o Alexandre de Moraes“, diz o parlamentar, referindo-se a denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro.

Lindbergh afirma ainda que pediu a cassação do passaporte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por “postura de traição à pátria”, diz que o julgamento do ex-presidente vai complicar a situação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e afirma temer que as big techs norte-americanas apoiem um golpe de Estado contra Lula.

PRISÕES

Eu gostaria de fazer uma pergunta provocativa: quem pregou o Lula livre pode defender hoje Bolsonaro preso?

Pode. Não tem contradição alguma. A lição que o filme “Ainda Estou Aqui” nos traz é a de que se não há punição para quem deu golpe, fez ditadura, tentou destruir as instituições democráticas, tudo vai se repetir.

O julgamento de um ex-presidente sempre vai ter um elemento político. Não seria o momento de passar uma régua e terminar com essa rotina de ex-presidentes serem condenados e até presos?

O que eles fizeram é muito grave. E é preciso entender o seguinte: Bolsonaro é o general Silvio Frota, que era o comandante do Exército que se opôs à abertura política do [general e ditador] Ernesto Geisel [na década de 1970].

Silvio Frota tentou dar um golpe em Golbery [do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil de Geisel e arquiteto da abertura].

Sabe quem foi ao aeroporto interceptar os comandantes que chegavam em Brasília para falar com o Geisel [depois que ele demitiu Frota, o general tentou reunir militares para uma insurgência contra o então mandatário]? O [coronel do Exército] Brilhante Ustra [que Bolsonaro define como “herói nacional”]. Ele era dessa turma!

Sabe quem era o ajudante de ordens do Frota? O general [Augusto] Heleno [que foi ministro de Jair Bolsonaro entre 2018 e 2022 e é acusado de integrar organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado para impedir a posse de Lula em 2023].

Naquela época explodiram 70 bombas no Brasil. Queriam explodir uma bomba no Rio-Centro. Ninguém foi preso.

Bolsonaro é dessa mesma facção de extrema-direita incrustada entre os militares. É a turma dos porões, que sempre fez terror. É como se fossem do mesmo partido político.

Bolsonaro [naquela época] também tentou explodir bomba [o ex-presidente foi condenado nos anos 1980 por planejar a explosão de artefatos em unidades militares]. Ele a vida inteira disse que a ditadura matou pouco, que tinha que matar muito mais.

Desta vez eles tinham um plano sólido de dar um golpe, planejaram a operação Punhal Verde e Amarelo para matar o Lula, matar o Alexandre de Moraes. Esses fatos todos vão vir à tona no julgamento.

Não dá para deixar passar porque é muito grave o que eles planejaram, gente. Isso aqui não é qualquer coisa. É um [ex] presidente que tramou o assassinato de Alexandre de Moraes, que queria envenenar o Lula. Temos como provar, tem diálogos [que comprometeriam Bolsonaro]. Se a gente deixa isso, eles voltam daqui a pouco fazendo algo pior.

Os parlamentares bolsonaristas já estão perto da maioria para aprovar a anistia na Câmara dos Deputados. O governo vai tentar barrar a iniciativa?

O Bolsonaro só pensa nele. É um covarde. É mentira que ele está pensando naquelas senhorinhas [que participaram do vandalismo do 8/1]. O projeto anistia tudo [referindo-se a atos do ex-presidente e de generais de seu governo].

O Bolsonaro só fala nisso. A preocupação dele é como escapar da prisão. O que eles querem é livrar a cara do Bolsonaro. É o desespero deles.

Não tem condições de votar um projeto desses. No próximo dia 25, Bolsonaro vira réu [no STF]. Aí é julgamento. É pipoca, todo mundo na frente da televisão vendo o que aconteceu. Revelações dia a dia. Como é que vai colocar esse projeto para votar? Um projeto que é contra a sociedade?

TARCÍSIO


O julgamento acaba ajudando o governo, já que vira os holofotes para Bolsonaro?

O governo tem muita coisa para mostrar neste ano de 2025. E o julgamento coloca também o Tarcísio [de Freitas, governador de SP] numa situação complexa. Ele vai assistir a todas as revelações e vai continuar defendendo o Bolsonaro? É isso mesmo?

A minha vida aqui é insalubre, é um enfrentamento diário com essa turma bolsonarista. Então sou um dos poucos brasileiros que leu tudo [referindo-se ao relatório da Polícia Federal e à denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente]. É muita prova.





Sabemos dos golpes que já foram dados na América Latina com apoio norte-americano, com e sem intervenção armada. Você tem alguma dúvida de que, em um momento de turbulência, essas big techs podem tentar desestabilizar um governo popular como o do Lula?

Acredita que o Tarcísio será o adversário de Lula em 2026?

O Lula vai acabar o ano bem, e aí o Tarcísio não vem [para a disputa presidencial].A avaliação do nosso governo vai determinar todo o resto.

E eles estão em uma situação crítica. O julgamento vai colocar toda a extrema-direita em uma postura defensiva.

Agora, eles são muito atrevidos. Não têm argumento, mas vêm pra cima. Gritam o tempo todo, como se tivessem razão.

A minha briga hoje aqui é para impedir que o [deputado] Eduardo Bolsonaro assuma a presidência da Comissão de Relações Exteriores. Ele seria um emissário do [presidente norte-americano Donald] Trump aqui dentro. É impressionante. Temos uma pessoa que usa o mandato parlamentar para conspirar contra o Brasil.

Nessa questão das tarifas [de importação impostas por Trump a diversos países], o Lula está tendo uma postura muito habilidosa e altiva. E o Eduardo Bolsonaro é uma peça que fica o dia inteiro querendo arrumar atrito, vendendo a ideia de que aqui é uma ditadura, é a Venezuela, tentando influenciar o Trump.

A votação de uma comissão do parlamento [dos EUA] contra o Alexandre de Moraes [dizendo que censores de empresas norte-americanas não poderão ter visto para os EUA] foi construída por ele, que tenta usar uma potência estrangeira para intimidar uma autoridade e interferir em uma investigação de um poder independente, que é o Judiciário do Brasil.

Pedi a cassação do passaporte dele depois desses fatos gravíssimos. É uma postura de traição à pátria.

EUA


Mas ele não tem o direito de pensar que o Brasil está submetido a uma ditadura judicial, e por isso pedir ajuda no exterior para combatê-la?

Eles sempre defenderam a ditadura, Mônica. É cinismo. É cara de pau. Eles sabem que não tem ditadura nenhuma aqui.





O governo tem muita coisa para mostrar neste ano de 2025. E o julgamento coloca também o Tarcísio [de Freitas, governador de SP] numa situação complexa. Ele vai assistir a todas as revelações e vai continuar defendendo o Bolsonaro? É isso mesmo?

Não há um pano de fundo ainda maior neste cenário, que é a questão das big techs? Elas hoje estão no centro do poder norte-americano, e resistem a qualquer tipo de regulação. O ministro Alexandre de Moraes atua e prega justamente a necessidade de que ela seja feita, enquanto é tempo.

Os chineses se protegeram lá atrás. Porque o problema nem é fake news. São os algoritmos. Quem os controla?

Você vai dizer para mim que aquele vídeo do [deputado federal] Nikolas [Ferreira, cujo vídeo com fake news sobre taxação do Pix foi visto por mais de 200 milhões] foi todo orgânico? Pode ser que sim, mas pode ser que não seja isso. Você [big tech] pode abrir o filtro.

O livro “Tecnofeudalismo”, do Yanis Varoufakis, que foi ministro da Fazenda da Grécia, fala sobre isso, [foi publicado] antes mesmo da posse do [presidente dos EUA, Donald] Trump.

Ele diz que só tem um jeito de os EUA competirem com a China, que tem uma forte relação entre os setores tecnológico, econômico e político: é os EUA fazerem uma aliança entre o Vale do Silício, Wall Street e Washington. E o que foi a posse do Trump? As big techs todas ali, na primeira fila.

Qual é a nossa preocupação? É em relação a um termo que parecia em desuso: o novo imperialismo norte-americano com Trump.

Sabemos da quantidade de golpes que já foram dados na América Latina com apoio norte-americano, alguns com intervenção armada, outros não.

Talvez eles não precisem mais de intervenção armada. Mas você tem alguma dúvida de que, em um momento de turbulência, essas big techs podem tentar desestabilizar um governo popular como o do Lula? Tentar influenciar o processo eleitoral? Eu não tenho a menor dúvida.

O Alexandre de Moraes tem muita coragem. Com todas as ameaças em cima dele, o ministro está ali. Sabe do papel que precisa ter.

noticia por : UOL

16 de março de 2025 16:19

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