Cerca de 4% dos parisienses foram às urnas neste domingo (23) e aprovaram o projeto da prefeita Anne Hidalgo de criar 500 vias arborizadas que serão fechadas para veículos e priorizarão a circulação de pedestres (as “ruas-jardins”) em todos os bairros da capital francesa.
Quase 66% dos 54.489 eleitores votaram a favor da medida, enquanto 34% a rejeitaram. Segundo a prefeitura, o “não” venceu em apenas 3 dos 17 distritos onde houve votação, sendo que os três pertencem às regiões de moradores mais abastados de Paris.
“Conversei hoje com vários parisienses que agradeceram por ter dado o direito de escolher a cidade que eles querem. Também é algo pedagógico. Esse nível de participação é normal nesse tipo de consulta”, disse a prefeita socialista.
A medida faz parte dos esforços da prefeitura para reduzir o uso de carros e melhorar a qualidade do ar, além de preparar a cidade para ondas de calor de até 50°C nas próximas décadas. O plebiscito não era obrigatório para avançar com o projeto, mas foi organizado pela prefeitura para legitimar a proposta.
“É verdade que nós podíamos ter decidido sozinhos, mas a prefeita quis que os cidadãos pudessem se expressar, porque é uma escolha entre dois modelos de cidade”, disse Christophe Najdovski, uma espécie de secretário municipal do Meio Ambiente, à Folha.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
O próximo passo é, segundo ele, ouvir os moradores de cada distrito parisiense (os “arrondissements”) para a escolha das ruas que passarão pela transformação. Com a aprovação do projeto, 10 mil vagas de estacionamento em Paris serão eliminadas, somando-se às 10 mil removidas desde 2020.
No cargo desde 2014, Hidalgo promoveu medidas ambientais que, segundo as medições, melhoraram o ar da capital, como a interdição de carros em parte das margens do rio Sena.
É a terceira vez que Paris promove uma votação deste tipo. Em 2023, com aprovação de 89%, um pleito vetou o serviço de aluguel de patinetes elétricos nas ruas; no ano passado, outro referendo endossou, com 54% dos votos a favor, a decisão de triplicar as taxas de estacionamento para grandes SUVs. Ambos tiveram menos de 8% de participação.
Críticos das mudanças questionam a legitimidade dos resultados e dizem que as medidas da prefeitura dificultam o deslocamento de 10 milhões de pessoas que vivem nos subúrbios extremos, onde a rede de transporte público é menos densa, para o trabalho e para fazer compras no centro da cidade.
Além de temer uma piora no trânsito, os adversários de Hidalgo acusam-na de propor uma pergunta vaga (“Você é a favor ou contra a vegetalização e a pedestrianização de 500 novas ruas em Paris, divididas entre todos os bairros?”) para obter carta-branca.
noticia por : UOL