Depois de publicar reportagem em que relata vazamentos de segredos militares dos Estados Unidos, o editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg, contou mais detalhes de como obteve as informações.
Segundo ele, integrantes da alta cúpula do governo de Donald Trump foram imprudentes ao compartilhar dados sigilosos em um grupo do aplicativo de mensagens Signal, no qual o próprio editor foi incluído, aparentemente de forma acidental.
“Todo mundo já mandou uma mensagem de texto ou um email para um destinatário não intencional e, às vezes, já passou vergonha por isso”, disse ele em entrevista à newsletter The Atlantic Daily.
“Foi como um gotejamento intravenoso de informações que ninguém no governo acha que jornalistas deveriam ter”, acrescentou, afirmando que nunca lidou com nada parecido. “Como a maioria dos repórteres, já recebi vazamentos. Um vazamento é algo totalmente diferente. É um denunciante tentando fazer reclamações. Isso aqui é simplesmente imprudente.”
“Isso está em um nível diferente e prova um ponto: há uma razão pela qual pessoas que trabalham com questões sensíveis no governo não devem usar o Signal, mesmo que seja criptografado de ponta a ponta. Qualquer um pode usar o Signal, então, se você não for cuidadoso, pode compartilhar a conversa com um simpatizante houthi ou um editor de revista.”
Goldberg teve acesso a informações sobre ofensivas das forças americanas contra rebeldes houthis, que controlam parte do Iêmen, são aliados do Irã e têm atacado embarcações no mar Vermelho em apoio aos palestinos na Faixa de Gaza, território bombardeado por Israel.
As informações secretas, segundo o editor-chefe, foram compartilhadas no grupo por autoridades que incluíam o vice-presidente americano, J. D. Vance, e o secretário de Defesa, Pete Hegseth.
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Apesar da sensibilidade do tema e do histórico de ataque de Trump e seus aliados à imprensa profissional, o editor disse que “não é seu papel se preocupar com a possibilidade de ameaças ou retaliações”.
“Temos apenas que trabalhar e fazer nosso trabalho da melhor forma possível. Infelizmente, na nossa sociedade atual —vemos isso no jornalismo corporativo, nos escritórios de advocacia e em outros setores— há muita obediência preventiva para o meu gosto. Tudo o que podemos fazer é, simplesmente, fazer nosso trabalho.”
Goldberg descreveu o momento em que percebeu que havia sido incluído no grupo. Segundo ele, na manhã de um sábado, ele viu uma mensagem de texto enviada por um contato com o nome de Hegseth. Em um primeiro momento, teria ficado desconfiado. Depois, percebeu que não se tratava de uma farsa pois as ações mencionadas no grupo se concretizaram.
“Ele [Hegseth] forneceu informações sobre as próximas operações militares, com os horários anexados: isso vai acontecer, depois isso”, conta. “Verifiquei a plataforma X, por volta das 13h55 e, sim, Sanaa estava sendo bombardeada. Então percebi que, quase certamente, tratava-se de um canal real, não apenas de uma farsa. Foi então que comecei a perceber que tinha de escrever sobre essa violação de segurança.”
O texto publicado por Goldberg enumera uma série de questões inapropriadas deste suposto sistema: do vazamento de informações —se todos os perfis forem comprovadamente de quem demonstram ser— à possível violação da lei federal de registros —uma vez que um dos participantes usou configurações que excluiriam mensagens após um dia ou uma semana, o que pode configurar apagamento de registros que, em tese, devem ser preservados.
noticia por : UOL