Torre de Pisa resiste a terremoto mas segue inclinando ano a ano

A Torre de Pisa,compondo a Piazza dei Miracoli, em português Praça dos Milagres
Reprodução

A Torre de Pisa,compondo a Piazza dei Miracoli, em português Praça dos Milagres

Um dos pontos turísticos mais visitados da Europa, a Torre de Pisa, localizada na região da Toscana, na Itália, possui hoje uma inclinação de aproximadamente 4,0 graus e tendência de entortar meio milímetro por ano.

Mas a torre de 57 metros de altura já foi mais torta e, por segurança, teve que passar por correções.

É, no mínimo, uma construção curiosa, cercada de história e engenhosidades, que nem terremoto é capaz de derrubar, segundo o arquiteto Edison Hitoshi Hiroyama, professor do curso de Arquitetura da Faculdade Anhanguera Osasco.

Em entrevista ao Portal iG, Hiroyama conta que a conclusão da obra da torre, entre interrupções e avanços, demorou quase 200 anos.

O início se deu em 1.173 e, 5 anos depois, ela já apresentava problema, o que revela a opção dos construtores, na época, de continuar fazendo a torre inclinada.

Registro da Torre de Pisa em janeiro de 1866
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Registro da Torre de Pisa em janeiro de 1866

“Suas fundações com apenas 3 metros de profundidade não asseguraram estabilidade no subsolo em que estava sendo erguida. Este é o primeiro elemento que explica a sua configuração torta, e que pode ser apontado como um ‘erro’. Mas derrubar e construir outra não foi opção”, afirma.

A construção atingiu o terceiro piso em 1.178; ao todo ela possui oito. Depois disso, devido a um período de grandes conflitos que acometeram aquela região da Itália, as obras ficaram paralisadas por cerca de 100 anos, sendo retomadas somente no ano de 1.272.

Última fase da construção

Atribui-se ao arquiteto Giovanni di Simone o levantamento do quarto ao sétimo andar, utilizando-se de técnicas de compensação para que a inclinação da torre não fosse um impedimento para finalizá-la. Esse segundo ciclo de construção durou até 1.284.

A última fase da construção da Torre de Pisa começou em 1.350 e foi até 1.372, sob a responsabilidade do arquiteto Tommaso Pisano.

Ao final desse processo, os sete sinos foram instalados, cumprindo o seu propósito inicial.

A Torre de Pisa é um campanário, cuja função inicial é acomodar os sinos para convocação das cerimônias litúrgicas  na Catedral de Pisa
Reprodução

A Torre de Pisa é um campanário, cuja função inicial é acomodar os sinos para convocação das cerimônias litúrgicas na Catedral de Pisa

“A construção da Torre de Pisa demorou quase 200 anos e foi marcada pela inclinação que somente aumentou com o passar do tempo ”, ressalta ele.

E por que não cai?

Na opinião do arquiteto, a Torre de Pisa é um claro exemplo da engenhosidade e conhecimento técnico da civilização ocidental da Idade Média.

“Os arquitetos e mestres de obras envolvidos em seus 177 anos de construção, entre pausas e retomadas, utilizaram-se das técnicas construtivas de que dispunham, e que foram embasadas em conhecimentos empíricos”, enfatiza.

Cada um, segundo ele, adotou soluções inventivas para contrabalançar as cargas e preservar o centro de gravidade.

“É no centro de gravidade que se concentra o peso de um objeto, e conhecer a sua localização é importante. No monumento de Pisa, ele fica localizado pouco abaixo do teto do quarto andar, e a sua inclinação atual ainda tem garantido equilíbrio para a torre a partir da posição do centro de gravidade”, explica.

No monumento de Pisa, o centro da gravidade fica localizado pouco abaixo do teto do quarto andar
Reprodução

No monumento de Pisa, o centro da gravidade fica localizado pouco abaixo do teto do quarto andar

Ainda segundo o arquiteto, a Torre de Pisa pode resistir a terremotos, por não transmitir ressonância como as estruturas comuns.

“Uma das causas de desabamento por terremotos é a chamada ressonância, que ocorre quando a frequência das ondas no terreno é próxima à frequência natural da edificação, e isso intensifica o movimento da estrutura, tendendo à possibilidade de queda. Por ser uma estrutura alta, pesada e sólida, feita sobre um solo argiloso, a Torre de Pisa não transmite ressonância como as edificações comuns”, esclarece ele.

Mas o fato de não ser abalada por terremotos não descarta o risco de ruir por conta do grau de inclinação.

Interior da Torre de Pisa, com escadaria de mármore
Reprodução

Interior da Torre de Pisa, com escadaria de mármore

“Ela continua se inclinando e, se atingir um grau de inclinação de 7,6, seu centro de gravidade se projetará para fora do raio de estabilidade estrutural. Neste caso, certamente ela ruiria”, adverte o arquiteto.

A reconstrução a partir de 1990

Hiroyama conta que o maior valor de inclinação da torre registrado até hoje foi o de 5,5 graus, em 1990, o que desencadeou uma força-tarefa, com engenheiros, matemáticos e historiadores, que se reuniram para discutir os métodos viáveis de estabilização.

Várias ideias foram propostas, incluindo a adição de 800 toneladas de contrapesos.

A torre foi fechada ao público naquele ano e a solução para evitar o colapso da torre foi endireitá-la ligeiramente para um ângulo mais seguro, removendo 38 metros cúbicos do solo abaixo.

A Torre de Pisa na década de 1990, em obras, fechada para o público
Reprodução

A Torre de Pisa na década de 1990, em obras, fechada para o público

“Em uma década de reconstrução, a torre foi tracionada até 18 polegadas, ou 45 centímetros, retornando para a posição exata que ocupava em 1.838 ”, revela.

A torre foi reaberta ao público somente em 15 de dezembro de 2001.

Em maio de 2008, após a remoção de mais 70 toneladas de terra, os engenheiros anunciaram que a torre tinha sido estabilizada em tal ordem que havia parado de se mover pela primeira vez em sua história. Eles declararam que seria estável durante pelo menos 200 anos.

Mas, nem por isso, ela deixou de ser monitorada. Isso é feito hoje com tecnologias de ponta e extremamente sofisticadas.

Em 2013, pesquisadores da agência científica nacional da Austrália, a CSIRO, também mapearam todos os cantos da torre usando scanners 3D, criando algumas reconstruções digitais da torre que poderiam ser usadas caso o edifício precisasse de reparos.

A tríade formada pelo Battistero de San Giovann, a Catedralle de Pisa e a Torre de Pisa ao fundo
Reprodução

A tríade formada pelo Battistero de San Giovann, a Catedralle de Pisa e a Torre de Pisa ao fundo

É possível corrigir totalmente a inclinação na torre?

O professor Hiroyama diz que é possível, sim, corrigir e eliminar a inclinação da Torre de Pisa.

“Mas isso não faz sentido, visto que o grande foco de interesse está justamente nesta particularidade dela. Além disso, a Torre de Pisa é um bem tombado pela Unesco, na condição de patrimônio cultural da humanidade. Isto lhe confere prestígio internacional e demanda rígidos regramentos no que concerne às práticas de manutenção e preservação de suas características originais”, destaca.

Na sua avaliação, a Torre de Pisa é um fenômeno cultural. Do ponto de vista arquitetônico, é um arremedo de estilos, do romântico ao neoclássico.

O arquiteto Edison Hitoshi Hiroyama, professor do curso de Arquitetura da Faculdade Anhanguera Osasco
Reprodução

O arquiteto Edison Hitoshi Hiroyama, professor do curso de Arquitetura da Faculdade Anhanguera Osasco

“Ela é um elemento ‘menor’ dentro da tríade formada pelos edifícios da Catedralle de Pisa e do Battistero de San Giovanni. É um campanário, cuja função inicial é acomodar os sinos para convocação das cerimônias litúrgicas. Mesmo assim, ela se destaca por suas características peculiares e história fascinante”, conclui o arquiteto Edison Hitoshi Hiroyama, se referindo à composição da Piazza dei Miracoli, ponto turístico de Pisa que atrai 2 milhões de turistas por ano para conferir de perto a torre torta mais popular do mundo.

Fonte: Turismo

FONTE : MatoGrossoNews

18 de abril de 2025 3:52

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