“Câmara dos Deputados e Deputadas” – Célia Xakriabá, deputada federal (PSOL-MG), em PEC propondo alteração do nome da Câmara dos Deputados, alegando sexismo. Não gostei, faltou incluir “deputades”.
“Sarney é uma figura querida no Brasil” – revista The New Yorker, em matéria sobre Lula. Igual ao mosquito da dengue: quando aparece todo mundo bate palma.
“Empresa aérea que transporta milhões de brasileiros sem um único filme brasileiro nas telas de bordo. Só dá Hollywood. É necessário definir regras de proteção ao produto brasileiro” – Kleber Mendonça Filho, diretor de cinema. É a única forma de fazer alguém assistir “Bacurau”: amarrado na poltrona, a 8 mil metros de altura e sem rota de fuga.
“Enojou o país inteiro” – Fernando Haddad, ministro da Fazenda, sobre fraude no INSS. Enojou muita gente, mas não surpreendeu ninguém.
“[O salário mínimo] aumentou muitíssimo desde o governo FHC, governo Lula, e acho que está na hora de repensar. Tem a ver com várias questões que eu prefiro não me alongar demais” – Armínio Fraga, ex-ministro da Fazenda e cabo eleitoral de Lula. Podia se alongar um pouquinho e dissertar sobre o Bolsa-Empresário.
“Magoados por política migratória de Trump e agora de Milei, patriotas vão pra Cuba” – The Piauí Herald, seção de “humor” da revista Piauí. Cuba se tornou atrativa para a direita por outro motivo: com a internet censurada em Cuba, ninguém corre o risco de entrar no site da Piauí por acidente.
“O capitalismo perfeito vai ser comunista”
Eike Batista, em aula de ciências políticas no YouTube. Um capitalismo onde o lucro é privado, mas o prejuízo é socializado.
“Tenham calma” – Gilberto Waller, novo presidente do INSS, sobre o ressarcimento das fraudes. E não reajam que ninguém se machuca.
“Destruiu minha vida” – Jair Rosa, ex-gerente da cafeteria em Joinville (SC), demitido após vídeo viral do Padre Fábio de Melo criticando o estabelecimento. Padre Fábio de Melo fez voto de pobreza, pena que era pobreza de espírito.
“Você está matando crianças pobres em Gaza e financiando isso com cortes na saúde das crianças americanas” – Ben Cohen, fundador da marca de sorvetes Ben&Jerry’s, interrompendo discurso do secretário de Saúde dos EUA. Quem diria que o cara que ficou bilionário vendendo bolas de açúcar e gordura hidrogenada para a criançada fosse um “paladino da justiça” enrustido?
Eleições 2025
“Aspiro e tenho disposição para a candidatura presidencial” – Eduardo Leite, governador do RS (PSD). Não sei o que ele anda aspirando, mas bateu uma disposição bem esquisita.
“Uma luz à direita, Temer pode consolidar o que se espera de uma direita adequada aos novos tempos: democrática, republicana, moderada, qualificada e liberal” – editorial do Estadão, elogiando ex-presidente preso pela Lava Jato. Muito apropriado. Temer é o verdadeiro “portador da luz” ou, em latim, “lucifer”.
“Eduardo Paes pode unir o Brasil como candidato à Presidência. Prefeito do Rio mostra ser possível governar sem o preconceito da esquerda nem a manipulação da direita sobre religiosos” – Valdinei Ferreira, em coluna na Folha de S.Paulo. Desconfio que o Valdinei seja presidente do fã-clube da Lady Gaga em Rio das Ostras.
“Risco de Lula é o eleitorado trocar a ‘defesa da democracia’ de 2022 pela ‘anticorrupção’ em 2026” – Eliane Cantanhêde, jornalista. Precisamos vacinar a democracia com uma dose de reforço contra essa perigosa epidemia de corruptofobia.
Façam suas apostas
“Você pode mandar um abraço para minha esposa e a minha filha?” – Cleitinho, senador (Republicanos-MG), durante depoimento da influencer Virgínia Fonseca na CPI das Bets. Um abraço para a esposa e a filha, e uma banana para os eleitores.
“Porque vocês do congresso aprovaram a lei! Eu tô dentro da lei” – Rico Melquiades, influenciador digital, respondendo por que continuava fazendo publicidade de bets. Em defesa dos congressistas, eles provavelmente aprovaram ser ler. Como reza o regimento da Casa.
“Quem morde é o tigrinho, quem pica é a cobrinha. Nós não mordemos, então, fique tranquilo” – Soraya Thronicke, senadora (Podemos-MS), durante sessão da CPI das Bets. Se a senadora garante que não morde, só pode ser do tipo que pica, dadas as opções.
Squid Game
“Eu sou de uma geração que aprendeu nos anos 90, com Reagan e Thatcher, que a melhor coisa para o mundo é a globalização e o livre comércio” – Lula, em entrevista à revista The New Yorker. A globalização das empreiteiras e o livre comércio de ministérios.
“É importante dizer que não foi dinheiro dos cofres públicos. Foi dinheiro dos aposentados” – Lula, sobre fraude bilionária no INSS. Como explicaria a Janja: roubaram o dinheiro dos aposentados, não do governo.
“Quem são os vizinhos problemáticos que aparecem com Lula em foto na Rússia” – revista Veja, sobre foto em que Lula aparece ao lado de ditadores e genocidas. Não culpem o Lula; qualquer vizinhança que o aceite já é problemática por definição.
“Lula caiu na própria armadilha no caso da roubalheira no INSS” – manchete da revista Veja. Será que descontaram até da aposentadoria do chefão?
“Toda solidariedade à Janja, em mais este episódio de misoginia e preconceito” – Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, sobre episódio onde Janja causou incidente diplomático durante jantar na China. Se todo mundo fizer a sua parte, a misoginia acaba. Começando pela Janja.
“Presidente Lula andando com fé em sua chegada na China” – post de Gilberto Gil no X, sobre vídeo de Lula. É força do hábito; devem ter avisado a ele que ter fé é contravenção na China e ele não resistiu.
“Conteúdo desinformativo com potencial de vulnerar a estabilidade institucional e de comprometer a integridade das políticas públicas tuteladas pela União” – notificação da Advocacia-Geral da União (AGU) às plataformas digitais, sobre fake news envolvendo Janja Lula da Silva. Ficou a dúvida: a AGU se refere aos memes ou às pérolas da primeira-dama?
“Eu que fiz a pergunta, não Janja” – Lula, sobre pedido de censura do TikTok feito ao premiê da China durante jantar. Janja anda tão poderosa que o presidente virou seu porta-voz.
Quem se comunica também se trumbica
“Grande problema do governo é a comunicação” – Simone Tebet, ministra do Planejamento. Sim, a comunicação das trapalhadas que o governo faz.
“É inacreditável como o governo Lula é craque em dar munição para a oposição. Foi um péssimo passo” – Eliane Cantanhêde, jornalista, sobre visita de Lula a Putin, junto a outros ditadores. Veja pelo lado positivo: assim você garante seu emprego.
“No ‘zap‘, direita emplaca, com êxito, narrativas fantasiosas sobre fraudes no INSS” – Lauro Jardim, jornalista. Não se via uma narrativa fantasiosa de R$ 6 bilhões desde a trilogia “O Senhor dos Anéis”.
O Brasil de cabeça pra baixo
“Não há nada de errado, já que o planeta é redondo” – Márcio Pochmann, presidente do IBGE, sobre mapa-múndi invertido criado pelo órgão. E, para conter a alta de preços, basta virar o gráfico de cabeça pra baixo, já que a inflação é só um número.
“Meu palpite é que mais crianças vão ter a ideia de virar navegadoras depois de ver o Brasil nesse mapa” – Tamara Klink, navegadora, sobre mapa invertido do IBGE. Navegar é preciso; o mapa do IBGE, nem tanto.
“A publicação do novo mapa-múndi pelo IBGE alcançou êxito instantâneo” – Márcio Pochmann, presidente do IBGE. Um sucesso só superado pela fraude da Previdência e as gafes da Janja.
“Cresci assistindo Dragon Ball, não perdia um capítulo de Cavaleiros do Zodíaco e jogava com os disquinhos de Pokémon” – Gabriel Boric, presidente socialista do Chile, sobre a influência cultural do Japão. Então ele vai adorar o Brasil, aqui temos até um Pokémon cartógrafo.
Cantinho da Corte
“Não podemos só contar com o STF! Em 2026 precisamos desratizar esse congresso infestado de ladrões, assassinos, drogados, pedófilos e golpistas” – Tuca Andrada, ator. Em nome da divisão entre os poderes, ele deve preferir mantê-los apenas no Executivo e Judiciário.
“Apenas em tiranias um ramo estatal pode concentrar poderes” – Flávio Dino, ministro do Supremo (STF-MA). Está explicado o problema dele com “todo o poder emanar do povo”.
“É um prazer te ver, Felipe. Em nome dessa amizade, quero te dar uma sugestão: coloque a Teresa como vice-governadora, que essa chapa vai ficar imbatível” – Flávio Dino, sugerindo vice para chapa eleitoral no Maranhão. No Brasil, o juiz não só apita: escala o time e ainda escolhe quem vai ser o capitão.
“Os militares brasileiros não gostam de se indispor com os EUA, porque é onde obtêm os seus cursos e os seus equipamentos” – Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo (STF-RJ), durante evento de João Doria em Nova York. Ora, cortador de grama você acha em qualquer loja de esquina, e pintura de meio-fio o SENAI resolve em um semestre.
“Tivemos um decisivo apoio dos EUA à institucionalidade e à democracia brasileira em momentos de sobressalto. Como presidente do TSE, estive com o encarregado de negócios americano muitas vezes, e pedi declarações dos EUA de apoio à democracia brasileira” – Luís Roberto Barroso, ainda em Nova York. Para quem acumula cargos de juiz, promotor, detetive, censor, embaixador e chanceler aleatório, até que o Barroso faz valer cada centavo dos penduricalhos que recebe.
“O Brasil deve muito a ele [Moraes], porque não há dúvida de que ele teve uma coragem jurídica e até pessoal lá no TSE para garantir as eleições” – Michel Temer, ex-presidente, sobre Alexandre de Moraes, ministro do Supremo (STF-SP). A minha parte prefiro renegociar com um agiota, que sai mais barato do que ficar devendo ao Moraes.
Nem Freud explica
“Estou ao lado de uma mulher que eu respeito, que é minha irmã – de jantar comigo toda quarta-feira, de me levar pra dormir e dar remédio” – Jorge Kajuru, senador (PSB-GO), sobre a colega Soraya Thronicke (Podemos-MS). Não, Kajuru, essa deve ser a sua enfermeira.
“Além de gerar dependência psicológica, servem para lavar dinheiro” – Humberto Costa, senador (PT-PE), sobre as bets. Ou seja, é como o fundão eleitoral em ano de eleição.
“A moléstia mental tem feito pessoas se debruçarem para o tal do ‘bebê reborn’, que é, sem dúvida nenhuma, um transtorno mental e que deve ser tratado pelo poder público” – Rodrigo Amorim, deputado estadual (União-RJ), sobre projeto de lei para prover auxílio psicológico para “pais” de bebês reborn. Não sei não, começa como transtorno e daqui a pouco está pleiteando cota no serviço público. Já vi esse filme antes.
“Quando começou com essa história, a gente organizou tudo. Fiz toda uma produção” – Cláudia Raia, atriz, sobre a primeira experiência sexual da filha. Ok, em certos casos seria mais prudente a pessoa adotar um bebê reborn.
“Sim, se há algo que sabemos sobre Shakespeare, é que ele tinha dificuldade com as palavras” – J.K. Rowling, escritora britânica, ironizando a alegação de ativistas de que Shakespeare não criou personagens trans pois não possuía um vocabulário adequado. Nem Freud explica, e nem Shakespeare – e olha que ele era especialista em ficção.
Ari Fusevick é brasileiro não-praticante. Escreve sobre filosofia, economia e política, na margem entre o inconcebível e o indesejável. Colabora com a Gazeta do Povo, Newsmax e New York Post. Autor da newsletter “Livre Arbítrio” e do livro “Primavera Brasileira“.
noticia por : Gazeta do Povo