Virada Cultural tem falhas, mas consegue unir o velho e o novo na curadoria artística

A edição comemorativa de duas décadas da Virada Cultural, já consolidada como um dos principais eventos de São Paulo graças aos shows espalhados por dezenas de palcos pela cidade, não emocionou tanto quanto sugeria a efeméride.

Ainda assim, conseguiu mostrar esforços de atualizar a programação com nomes em alta, como Liniker, João Gomes e Iza, sem deixar de lado figurinhas repetidas de público cativo, caso de Michel Teló, Léo Santana e Luísa Sonza.

No entanto, no primeiro dia, sábado, o público teve de lidar com uma série de mudanças de última hora, falhas técnicas e atrasos em grandes espetáculos, como os de Belo —o mais lotado do dia, no palco Anhangabaú, no centro, que chegou a ser interrompido por falhas no som—, Karol Conká e Rashid, estes na praça Brasil, em Itaquera, na zona leste.

Às voltas com críticas de esvaziar o centro, a Prefeitura de São Paulo investiu alto numa variedade de opções para a região, mas incongruências na programação não ajudaram. A noite no principal palco do Anhangabaú acabou esvaziada após a mudança brusca do pagode de Belo para a MPB de Silva, que se esforçou para animar a plateia em clima de fim de festa.

O domingo, por sua vez, abriu com um respiro, em uma madrugada de público menor, mas fiel a programações de nichos. Foi tranquilo caminhar pelas ruas do centro, com movimento entre o coreto da praça da República e o palco de samba da avenida São João, que dividiram o movimento com a aparelhagem Tudão Crocodilo.

Esta última, em sua primeira passagem na capital paulista, roubou a cena no Anhangabaú, embalando o público com batidas eletrizantes de tecnomelody e de brega, do norte do país, com nomes como Gaby Amarantos, Jaloo e Viviane Batidão nos intervalos do palco principal.

Na tarde de domingo, coube à rapper Duquesa tapar o buraco deixado por Marina Lima —cuja apresentação foi cancelada na quinta-feira, sem um comunicado oficial da prefeitura. A artista, porém, soube agradar ao público, formado em sua maioria por jovens negras entoando as letras sobre empoderamento e sensualidade.

Mas nada se comparou à aglomeração que se seguiu, às 16h, com Liniker, que lotou o Anhangabaú no maior show de sua carreira, no rastro do sucesso do disco “Caju”, lançado no ano passado.

O telão ganhou cores durante a apresentação de “Veludo Marrom”, canção de amor entre suas mais conhecidas da nova fase. Em outro momento, a cantora trocou o figurino, até então mais formal, por um collant de brilhantes laranjas e rebolou ao som de “Negona dos Olhos Terríveis”.

“Que bom poder celebrar com tanta gente a minha história”, disse, e encerrou o show com “Deixa Estar”, parceria com Lulu Santos cantada hoje com Paulo Zuckini, um dos cantores do coro que a acompanha.

Liniker foi seguida pelo artista que teve o maior cachê, João Gomes, que cobrou R$ 750 mil por dois shows —antes de se apresentar no Anhangabaú, tocou no Jardim Vergueiro, na zona sul.

O músico, que subiu no palco com 40 minutos de atraso, encontrou um público animado, ainda que impaciente. Começou com “Coração de Vaqueiro”, agitando o segundo show mais lotado do domingo.

Não faltaram sucessos como “Meu Pedaço de Pecado” e “Dengo” —duas faixas que, aliás, ilustram o apelo do cantor aos carentes solteiros ou comprometidos. Mas houve ainda espaço para outras menos escutadas, como “Eu Tenho a Senha” que, como todas as outras, foi cantada por uma plateia entusiasmada.

Mesmo quem não conhecia bem João Gomes não ficou de todo na mão. Aqui e ali, o músico achou espaço para covers de músicas como “A Noite”, de Tiê, “Como Eu Quero”, do Kid Abelha, “Não Quero Dinheiro”, de Tim Maia.

O centro também recebeu show de Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, que se apresentou em um palco pequeno na rua Quinze de Novembro. A apresentação reuniu bastante gente, mas o palco, montado no chão gerou críticas do público.

Nesse desafio de lotar o centro sem excluir a periferia, a prefeitura injetou R$ 54 milhões na virada, praticamente o mesmo valor da edição do ano passado, a mais cara até então. Apesar disso, o evento não conseguiu recuperar sua vocação de lançar tendências musicais e comportamentais. Hoje, a Virada parece mais dedicada a democratizar a arte.

Reflexo positivo disso foi, por exemplo, o show lotado de Luísa Sonza, fechando a noite em Vila Albertina, na zona norte paulista, após apresentações tímidas de Toni Garrido e da dupla sertaneja Marcos e Belutti. Ou o de Iza, em Itaquera, na noite de sábado, ainda que ela tenha precisado interromper a apresentação ao menos três vezes para ajudar aos fãs que estavam passando mal.

No domingo, foi a vez de Léo Santana movimentar a zona leste, em São Miguel, cantando para um público que subia em árvores e nas sacadas de casas próximas para ver o autor de “Zona de Perigo”. Ele apresentou sua nova música em parceria com a funkeira Melody.

Outro velho conhecido que chamou a atenção no domingo foi Latino, em Parelheiros. Jovens cantaram “Festa no Apê” e outros hits numa viagem aos anos 2000. Mais tarde, no mesmo palco, Mumuzinho trouxe seus clássicos do pagode, como “Curto Circuito” e “Mande um Sinal”, animando público de jovens e idosos.

Para quem buscava diversidade, os cortejos pelo centro da cidade deram evidência à cultura popular —foi o caso de um dedicado ao maracatu, com 12 grupos de diferentes regiões do estado. Apesar do impacto, a apresentação enfrentou falhas estruturais que afetaram sua execução.

noticia por : UOL

26 de maio de 2025 0:49

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