Como as grandes empresas se tornaram “woke”

O setor corporativo norte-americano deslocou-se nitidamente para a esquerda na última década, acumulando declarações públicas em defesa da equidade racial e promessas voltadas à agenda ambiental. Um novo e instigante estudo acadêmico — assinado pelos professores de finanças William M. Cassidy e Elisabeth Kempf, e divulgado pelo National Bureau of Economic Research — quantifica essa guinada a partir da análise de tuítes de empresas listadas no índice S&P 500 (que reúne as 500 maiores companhias dos Estados Unidos) e investiga tanto suas causas quanto suas consequências.

Para medir a inclinação partidária das corporações, os autores comparam estatisticamente a linguagem usada pelas empresas no Twitter (atualmente X) com a de parlamentares democratas e republicanos no Congresso dos Estados Unidos. A partir do final de 2017 — com aceleração a partir de 2019 —, o que antes era um fenômeno raro tornou-se recorrente: as companhias passaram a se posicionar politicamente em suas redes. O movimento foi puxado principalmente por discursos associados ao Partido Democrata sobre temas como DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão, na sigla em inglês) e mudanças climáticas — embora também tenha havido crescimento na retórica pró-republicana.

Os resultados talvez não surpreendam o observador atento, mas o recorte temporal chama a atenção. O período de 2017 a 2019 sucede a eleição de Donald Trump e se situa entre os dois grandes ciclos de protestos do movimento Black Lives Matter (em 2015 e 2020), sem coincidir exatamente com eventos nacionais de grande repercussão política.

Segundo o estudo, “o crescimento do discurso corporativo alinhado aos democratas está fortemente correlacionado com a expansão dos fundos de investimento com foco em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês)”.

Empresas com maior participação acionária da gestora BlackRock apresentaram crescimento mais expressivo nesse tipo de posicionamento a partir de 2019, quando o CEO da companhia, Larry Fink, enviou uma carta pública incentivando as empresas a se engajarem em debates sociais e políticos.

Em outras palavras, as corporações parecem responder sobretudo a pressões diretas e incentivos financeiros — mais do que a mudanças culturais ou a acontecimentos políticos pontuais. Embora haja uma tendência geral de alta, alguns picos abruptos ocorreram em torno de eventos específicos, como a morte de George Floyd, em maio de 2020.

O estudo aponta, contudo, que tuítes de viés partidário tendem a ter efeitos negativos sobre o desempenho financeiro das empresas. Em média, após uma publicação com conteúdo ideológico, o preço das ações caiu cerca de 0,3% nos 13 dias seguintes, antes de estabilizar. O impacto foi menor quando o posicionamento da empresa coincidiu com as preferências ideológicas dos investidores e dos próprios funcionários.

Como interpretar esse fenômeno?

Os autores propõem um modelo teórico em que a pressão de atores ligados ao Partido Democrata e ao movimento ESG força as empresas a escolher um lado — mesmo que isso implique desagradar parte de seu público. Essa dinâmica ajuda a explicar o aparente paradoxo em que empresas reagem a estímulos financeiros, mas ainda assim enfrentam queda no valor de suas ações.

Talvez optar pelo outro lado tivesse causado perdas ainda maiores, e até mesmo abster-se do debate público poderia resultar na perda do apoio de fundos comprometidos com pautas ESG no longo prazo. Também é possível que algumas companhias tenham simplesmente subestimado os riscos, cedido à pressão por falta de convicção — ou, ao contrário, se posicionado por princípios genuínos.

O estudo cobre dados apenas até o início de 2023. Por isso, os autores observam que ainda não é possível avaliar como as empresas têm reagido à crescente reação política contrária às pautas de ESG e DEI, nem como isso se encaixa em um ambiente político mais polarizado.

Resta saber como as corporações se comportarão em um eventual segundo mandato de Donald Trump: irão se despolitizar? Cederão às exigências do novo governo, desagradando investidores progressistas e fundos ESG? Ou seguirão atentas às pressões de ambos os lados?

Robert VerBruggen é pesquisador do Manhattan Institute, centro de estudos de tendência conservadora com sede em Nova York.

VEJA TAMBÉM:

©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: How Corporations Went Woke

noticia por : Gazeta do Povo

16 de junho de 2025 18:35

Ouvir Shalom News

LEIA MAIS

WP Radio
WP Radio
OFFLINE LIVE