A candidatura do senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) à presidência do Senado incomodou não só o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas também a bancada do PL e o favorito ao cargo, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que tenta a maior votação da história.
O ex-presidente deixou a irritação com Pontes explícita no começo da semana ao dizer que a candidatura era “lamentável”. Bolsonaro acrescentou que o ex-ministro está pensando só em si mesmo e se disse responsável por sua eleição como senador, em 2022.
À Folha Pontes diz que se inspirou em Bolsonaro quando decidiu concorrer e avalia que o ex-presidente poderia estar chateado por ter sido impedido de ir à posse de Donald Trump, nos Estados Unidos, quando falou da situação, na segunda (20).
“Sabe quem me inspirou bastante nisso? Bolsonaro. Ele foi candidato à presidência da Câmara dos Deputados quatro vezes. Eu tinha até há pouco tempo uma foto no gabinete dele falando sozinho no plenário. É tipo assim: eu acredito em alguma coisa mesmo que ninguém acredite”, afirma.
“Tem que considerar também que foi exatamente o dia que era pra ele estar lá na posse do Trump. E ele devia estar chateado, lógico, eu também estaria chateado. É igual quando você come alguma coisa que bate mal, assim, né? Não tem problema não, tranquilo, a gente continua aí na luta.”
Nos 28 anos em que foi deputado federal, Bolsonaro disputou a presidência da Câmara quatro vezes. Ficou em último lugar em todas, a última delas em 2017.
Pontes afirma que Bolsonaro é seu amigo e que há espaço para discordância em toda amizade. O senador também diz que não gosta de guardar rancor e que pretende conversar com o ex-presidente depois: “A gente toma uma cerveja e fala sobre isso”.
Apesar de não representar ameaça em termos de votos, a candidatura do senador paulista causa mal-estar no entorno de Alcolumbre pelos sinais políticos.
Um senador diz que Alcolumbre bate na tecla de que o Senado precisa estar coeso para recuperar espaço junto à Câmara dos Deputados e ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Nesse sentido, segundo ele, a candidatura de Pontes pode passar a mensagem de que Alcolumbre não é unanimidade nem tem legitimidade para falar em nome dos 80 colegas. A própria candidatura em si, continua, já indica que Alcolumbre tem adversários internos.
A votação será no próximo dia 1º. Uma pessoa próxima a Alcolumbre diz que o senador acha que a candidatura de Pontes não atrapalha o plano dele de conseguir uma votação história, mesmo o voto sendo secreto. Segundo ela, o sentimento do amapaense é de indiferença.
A insistência na candidatura tem constrangido a bancada do PL. Um senador que prefere não se identificar diz que seria melhor para o partido até mesmo se Pontes votasse no senador Eduardo Girão (Novo-CE) —que anunciou concorrer contra Alcolumbre— em vez de ser candidato.
Apesar do incômodo, tanto senadores do PL como aliados de Alcolumbre dizem que a candidatura avulsa não compromete o espaço do partido na presidência das comissões e na Mesa Diretora.
Ao PL, já foram prometidas a vice-presidência do Senado, com o nome de Eduardo Gomes (TO), e a Comissão de Infraestrutura, com Marcos Rogério (RO). O partido também briga para emplacar Flávio Bolsonaro (RJ) na Comissão de Segurança Pública.
Retaliado pelo atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por ter insistido no bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN) para o cargo em 2023, o PL acabou sem cargos na atual Mesa Diretora e passou os dois últimos anos com duas comissões de pouco prestígio.
Pontes diz que sua candidatura é independente, e afirma ter conversado pessoalmente com Alcolumbre e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para impedir que a bancada do PL fosse prejudicada. Segundo ele, o partido está “blindado”.
“Quando eu falei que era o candidato, ele [Valdemar] falou assim: ‘Ah, não tem problema, vai lá, não tem problema nenhum, é uma prerrogativa do senador fazer isso aí. Mas você vai ficar decepcionado’. Eu falei assim: mas é melhor eu ficar decepcionado com os outros do que ele ficar decepcionado comigo”, conta.
Pontes diz que é amigo de Alcolumbre e que vai levar a sua candidatura até o fim por pautas da direita em que acredita, como a anistia aos condenados do 8 de janeiro e o impeachment de ministros do Supremo.
Apesar do favoritismo de Alcolumbre, Pontes acredita que há entre 10 e 15 senadores contrários à candidatura do senador do Amapá. “Você tem que acreditar nas coisas. Eu teria chance zero se eu nunca me candidatasse”, diz, ressaltando ter sido o primeiro sul-americano a ir ao espaço.
noticia por : UOL