Em encontro dos leitores com colunistas para comemorar os 104 anos da Folha, realizado na sede do jornal na quarta-feira (19), o filósofo e professor universitário Luiz Felipe Pondé afirmou que escrever a coluna o ajudou a evoluir como escritor.
“Escrever em jornal me ensinou a escrever. Ensinou, antes de tudo, a saber que tem alguém lendo”, disse. No texto acadêmico, não há essa preocupação.
Colunista do jornal há 17 anos, Pondé disse que nesse período também aprendeu a não perder tempo escrevendo determinadas coisas. Mencionou uma coluna em que disse que resolvia ser um homem novo. “Essa figura seria um homem preocupado com o meio ambiente e pautas que todos acham bonitas. Hoje, não perderia tempo escrevendo algo assim. Aprende-se”, disse.
Pondé escreve semanalmente, toda segunda-feira (domingo, no online), na Ilustrada, caderno com o qual disse se identificar desde 1986. Em seu texto de 16 de fevereiro, abordou estudos sobre os dois primeiros séculos da era cristã.
Ao comentar como escolhe sobre o que escrever, Pondé disse que “o mundo é muito rico. Oferece temas a toda hora”. Às vezes, afirmou, entrega uma coluna, tropeça em algo mais quente e pede para trocar. E revelou que o espaço na Folha propicia uma oportunidade única: “Ficar bravo com algo e poder descarregar em uma coluna é um luxo. Um colunista pode descarregar, articular, construir uma ideia e transformar aquilo de alguma forma em conhecimento”.
Em resposta a Raul Jorge de Pinho Curro, funcionário público aposentado que lê a Folha há 60 anos, sobre o papel das redes sociais na produção da sua coluna, Pondé disse: “Não sei o que acontece nas redes sociais. Não vou a elas, não sei o que sai e não vou atrás de comentários.”
Mas afirmou que não tem horror a elas. “A minha relação com as redes sociais melhorou nos últimos anos.”
Seus efeitos na política e na saúde mental merecem a atenção do filósofo. “Vejo a piora no quadro clínico dos jovens que chegam à faculdade. Não tenho dúvida que as redes têm um papel nisso, mas não explicam tudo”, disse.
A respeito da inteligência artificial (IA), outro ponto abordado por Curro, Pondé disse que se classifica como um não apocalíptico. “Gerações mais jovens estão preocupadas com IA, algo que não me incomoda. Eu, por sorte, não preciso lidar com essas encheções relacionadas a novas tecnologias.”
Segundo Pondé, a IA tende a ser algo que “a gente vai usar e não vai lembrar”, como o Waze e o celular, mas ainda precisa dizer a que veio, “se vai entrar na cadeia produtiva e fazer dinheiro”.
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Ao leitor Márcio Antônio Chaves Pinto, psicopedagogo e advogado, que perguntou sobre a dificuldade de comunicação entre as pessoas, Pondé deu como conselho “ser assertivo quando vale a pena”. Segundo o colunista, a comunicação entre as pessoas está muito truncada.
Para ele, o vocabulário, a semântica, gestos e frases adquiriram outros sentidos na modernidade, inclusive inconscientes. “Você fala A e alguém pode acusá-lo de falar A+1. Você nem sabe, não era sua intenção, mas você é julgado”, disse. “Há uma judicialização das relações.”
Respondendo ao leitor Rodrigo de Jesus Santos, enfermeiro, que criticou instituições, como universidades por tolher talentos, Pondé disse que a universidade é, às vezes, insalubre para alunos e professores, com relações que não são transparentes. “Ao mesmo tempo, continuo achando que a universidade é importante por seu caráter institucional.”
Ele lembrou sua graduação em filosofia na USP. “Tive excelentes professores, como Paulo Arantes, Marilena Chaui, Olgária Matos e Oswaldo Porchat. Ninguém ali estava interessado em opiniões, mas no que havia nos textos.”
noticia por : UOL