Qual é a estratégia de Putin na negociação de cessar-fogo com a Ucrânia?

Mas a ideia de Putin de como deveria ser esse acordo pode ser diferente da de Trump. O americano quer uma trégua inicial de 30 dias nos combates. Putin sinalizou que apoiava a ideia, mas acrescentou que há “questões que precisamos discutir”. Mas que questões são essas, e o que elas revelam sobre as intenções da Rússia?

Putin quer mais concessões na mesa

As objeções de Putin ao cessar-fogo, que ele chamou de “questões”, são na verdade demandas explícitas: rendição dos soldados ucranianos que ainda combatem na região russa de Kursk; veto à mobilização de novos soldados ucranianos e suspensão de entrega de armas a Kiev enquanto durar a trégua.

Segundo Putin, o cessar-fogo deve “levar a uma paz de longo prazo e eliminar as causas do conflito”. Essa formulação vaga é uma tentativa de alinhar as negociações aos objetivos de longo prazo de Moscou na Ucrânia.

“A Rússia está mirando num cessar-fogo que levaria diretamente a conversas de paz”, afirma Barbashin. Por isso, Moscou quer assegurar várias concessões de antemão, incluindo a confirmação “tanto da Otan quando da Ucrânia” de que Kiev jamais será parte da aliança militar.

Além disso, os objetivos de guerra declarados publicamente por Putin incluem a exigência da retirada completa das tropas ucranianas das regiões de Luhansk, Donetsk, Zaporíjia e Kherson, que a Rússia não conseguiu ocupar totalmente.

Quais as chances de Putin ganhar o que ele quer?

Especialistas alinhados ao Kremlin avaliam que Trump pode considerar as condições de Putin aceitáveis. “Os EUA podem muito bem concordar com a exigência de um embargo de armas, porque Trump não quer gastar mais dinheiro americano com a Ucrânia”, afirmou o cientista político Sergei Markov no Telegram. Segundo ele, a mobilização de soldados na Ucrânia já seria tão impopular a esta altura que pará-la poderia fortalecer o governo de Zelenski.

Mas os EUA voltaram a enviar armas para a Ucrânia, após pausar a ajuda por alguns dias. E a mobilização ainda é a única opção que a Ucrânia tem para manter sua defesa. Portanto, parece improvável que o país aceite suspendê-la.

“Apesar de tudo que estamos ouvindo de Washington, a Ucrânia na verdade ainda tem muitas cartas na manga”, avalia o especialista em segurança Dmitri Alperovitch. A Ucrânia, segundo ele, poderia escolher continuar se defendendo com ajuda da Europa, mesmo sem apoio dos EUA. “Seria muito mais difícil, mas eles têm essa opção.”

Rússia tenta ganhar tempo e não espantar Trump

Muitos especialistas acreditam que Putin esteja tentando ganhar tempo – tempo para expulsar as tropas ucranianas da região russa de Kursk e convencer Trump, talvez numa reunião de cúpula, da necessidade de um acordo mais abrangente.

De acordo com Barbashin, se Putin conseguir impor suas demandas, “isso abriria caminho para uma discussão muito mais ampla sobre a arquitetura de segurança europeia”. Trump, que não esconde seu ceticismo em relação à Otan, pode estar preparado para uma conversa dessas – o que criaria uma oportunidade única para a Rússia.

Ao mesmo tempo, parece que as opções de Trump para influenciar Putin são limitadas. Putin se gaba de que a economia russa, impulsionada primariamente por gastos militares, ainda está funcionando apesar das sanções impostas pelas grandes potências.

“Trump tem poucas opções para enfrentar tanto uma rejeição russa quanto uma aceitação fingida e prolongada”, escreveu o pesquisador e jornalista Alexander Baunov numa análise para o Carnegie Russia Eurasia Center, em Berlim. Em vez de ameaçar com punições, o método mais eficaz para convencer Putin é oferecer a ele a “tentação de um grande acordo” – algo que se alinharia muito aos interesses do líder russo.

Autor: Grzegorz Szymanowski

noticia por : UOL

16 de março de 2025 3:33

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