ONU Mulheres alerta sobre impacto de guerra na saúde mental feminina

O número de mulheres e meninas envolvidas em conflitos está aumentando rapidamente. Em 2024, a proporção de mulheres mortas em conflitos armados dobrou, representando 40% de todos os óbitos de civis.

Hoje, mais de 600 milhões de mulheres e meninas vivem em áreas afetadas por conflitos, um aumento de 50% desde 2017.

Em crises humanitárias, 20% terão problemas psicológicos

Para milhões delas, o trauma da guerra, do deslocamento e da repressão está causando um impacto arrasador sobre a saúde mental.

Quase todas as pessoas afetadas por uma crise humanitária têm sofrimento psicológico. Cerca de uma em cada cinco desenvolverá problemas de saúde mental de longo prazo, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno bipolar ou esquizofrenia.

Mas somente 2% dessas pessoas recebem os cuidados de que precisam.

Apesar dos dados alarmantes, apenas 1% a 2% do financiamento global da saúde é destinado à saúde mental.

O baixo investimento não faz sentido quando se sabe que a saúde mental e as condições psicossociais são responsáveis ​​por 20% dos problemas de saúde relatados em emergências.

No Afeganistão, apenas meninas em idade pré-escolar podem frequentar a escola

No Afeganistão, apenas meninas em idade pré-escolar podem frequentar a escola

Países de baixa renda sofrem mais

Em países de alta renda, há mais de 70 profissionais de saúde mental para cada 100 mil habitantes. Em nações de baixa renda, esse número cai para menos de um.

Com guerras e crises prolongadas, sobe o número de mulheres afetadas, assim como a emergência.

A ONU Mulheres entrevistou uma grupo de afegãs, ucranianas, palestinas e georgianas para entender como a crise está impactando a saúde mental delas.

No Afeganistão, por exemplo, o retorno do Talibã privou as mulheres e meninas de seus direitos. Elas foram proibidas de estudar.

A representante da ONU Mulheres no Afeganistão, Alison Davidian, alerta que quase quatro anos de inúmeros decretos do Talibã estão erradicando a autonomia de mulheres e meninas.

Afeganistão: mulheres sem autonomia

Apagadas da vida pública, não há mais mulheres em cargos de liderança e 98% das afegãs afirmam ter influência limitada ou nenhuma sobre as decisões em suas comunidades.

Um relatório da ONU Mulheres revela que 68% das afegãs descrevem sua saúde mental como “ruim” ou “muito ruim”, 8% dizem conhecer pessoalmente alguém que tentou suicídio.

Mursalina Amin, fundadora da ONG Girls toward leadership, conta que as mulheres  estão presas, sem educação, sem movimento, sem autoexpressão. Todos os sonhos foram mortos.

Uma palestina deslocada e os seus filhos vivem numa escola da Unrwa em Gaza

Uma palestina deslocada e os seus filhos vivem numa escola da Unrwa em Gaza

Gaza, mulheres numa catástrofe humanitária

O conflito em Gaza levou a uma catástrofe humanitária que vitima especialmente mulheres e crianças. São bombardeios, deslocamentos forçados e privação. A vida sob o cerco e a constante ameaça de violência causam níveis extremos de medo, trauma e exaustão às palestinas.

No início do ano passado, havia mais de 1,9 milhão de pessoas ou 85% da população de Gaza vivendo fora de suas casas.  Sem acesso a alimentos, água potável, eletricidade, saneamento básico e cuidados de saúde.

Essas condições causam um desgaste e estresse psicológicos que levaram 75% das mulheres à depressão. Um estudo da agência da ONU mostra que 62% das entrevistadas disseram não conseguir dormir. E 65% sofrem com pesadelos e ansiedade. Grávida do quarto filho, aos 27 anos, uma mulher de Khan Younis diz que está sofrendo com problemas de saúde mental e que às vezes se tranca no banheiro apenas para chorar. Ela é a principal cuidadora de toda a família.

Muitas palestinas dizem que precisam pensar primeiro nos filhos e outros parentes. E várias estão fazendo papel de pai e mãe.

Geórgia: sobe uso de ansiolíticos

Muitos anos de conflito e deslocamento forçado levaram mulheres e crianças na Geórgia a enfrentar uma emergência de saúde mental, que segue aumentando.

Cerca de 200 mil mulheres permanecem deslocadas com quase 40% vivendo em abrigos em condições precárias com altas taxas de desemprego e serviços limitados.

Dentre os deslocados, 23% sofrem com Transtorno de Estresse Pós-traumático, 10% relataram sentir depressão e 9% ansiedade. Mas apenas um terço dessas pessoas tem acesso a tratamento. Muitas sequer conhecem os sintomas e outras enfrentam barreiras financeiras, estigmas e falta de apoio.

A Geórgia tem também um problema grave de saúde mental entre crianças com os efeitos do conflito especialmente para quem vive perto de tendas militares ou de tropas em ação. Muitas mulheres estão fazendo uso indevido de medicamento como ansiolíticos e antidepressivos especialmente em duas regiões do país. Elene Rusetskaia, do Centro de Informação das Mulheres, afirma que sua organização está apoiando as georgianas com espaços de conversa e aconselhamento.

Uma mulher recebe aconselhamento em um centro de trânsito na Ucrânia para pessoas afetadas pela guerra

Uma mulher recebe aconselhamento em um centro de trânsito na Ucrânia para pessoas afetadas pela guerra

Ucrânia: aumento de violência doméstica

Na Ucrânia, a guerra atrasou a situação das mulheres em todos os sentidos. A violência de gênero subiu 36% desde 2022, quando a Rússia atacou o país. As ucranianas também fazem mais trabalhos sem pagamento. Até 56% delas estão nessa situação, enquanto o desemprego aumenta. Isso está afetando o bem-estar com 42% sob risco de depressão e 23% já relatando que elas ou alguém do lar  precisam de aconselhamento psicológico.

FONTE : News.UN

30 de abril de 2025 6:50

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