Aposta conservadora vira a mais rentável na semana de Copom e Fed

Se o Fed espirra, o mundo pega gripe. Se o Copom coça o bolso, o investidor brasileiro segura o fôlego. Nesta quarta-feira, os dois bancos centrais mais observados da semana se reúnem para decidir os juros básicos de suas economias — e o impacto pode ser maior do que muita gente imagina.

No Brasil, a expectativa majoritária é de que a Selic suba 0,5 ponto percentual, chegando a 14,75% ao ano. Ainda há apostas em uma alta mais moderada, de 0,25 ponto, o que levaria a taxa para 14,5%. Já nos Estados Unidos, o Federal Reserve deve manter os Fed Funds na faixa entre 4,25% e 4,5% ao ano, com quase consenso. Mas, neste momento, o mais importante não será a taxa — e sim, o tom.

É o comunicado, mais do que a decisão em si, que deve ditar os rumos do mercado. A política econômica errática do governo Trump tem feito crescer o temor de uma recessão nos EUA. O índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan está em níveis tão baixos quanto os da pandemia da Covid-19. Excluindo aquele momento, é o pior patamar em 50 anos (Figura abaixo).

Com a ameaça de desaceleração no radar, o mercado começou a precificar cortes de juros no futuro. Afinal, recessões costumam derrubar consumo, reduzir a inflação e, consequentemente, abrir espaço para afrouxamento monetário. Mas o mundo real raramente segue o roteiro ideal.

No Brasil, por exemplo, os índices de confiança não despencaram. E o Banco Central pode não ter o mesmo espaço para cortes de juros que se imagina lá fora. Se o câmbio se desvalorizar com uma crise externa, o BC pode ser forçado a manter a Selic elevada como âncora cambial — mesmo diante de uma economia desaquecida.

Segundo os contratos futuros, esse pode ser o último ajuste de juros no ano. Mas não se espere por alívio rápido. O mercado projeta que os juros permaneçam altos até pelo menos janeiro de 2026 (Figura abaixo).

Nesse cenário, os pós-fixados seguem imbatíveis. Produtos que rendem 110% do CDI oferecem retorno total superior a 16% ao ano. Com uma inflação estimada em 5,5%, estamos falando de IPCA +10% — um prêmio generoso para quem prefere esperar com segurança.

Já quem aposta na Bolsa como antecipação da queda de juros pode se frustrar. Uma recessão global afetaria os lucros corporativos e tiraria força do eventual ciclo de corte. Por isso, quem acredita na reversão da Selic deve considerar prefixados ou títulos atrelados à inflação — e não ações — como forma de capturar esse movimento.

O momento exige humildade. Entrar em modo de espera não significa perder oportunidades, mas sim evitar tropeços. Quem corre agora pode tropeçar no escuro. Já quem avança com cautela, pode chegar mais longe — e com menos arranhões.


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noticia por : UOL

4 de maio de 2025 7:00

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