Como acompanhar a CPI das Bets sem cair em depressão

Um, dois, três, testando. Qwert, asdfg, zxcvb. Ivo viu a uva. O rato roeu a roupa do rei de Roma. Ah, então é assim que se escreve. Uma letra depois da outra, palavras, frases, orações parágrafos. Muito bem, parece que não esqueci meu ofício nesses dias de recesso involuntário. Pelo qual peço desculpas. É que andei refletindo sobre bizarrices como a da CPI das Bets, a viagem de Lula a Moscou e as estripulias costumeiras do STF – e quase caí em depressão.

É um perigo constante, esse de se ver preso às correntes da melancolia que não vê sentido em nada. Um perigo que corremos todos nós cotidianamente expostos ao noticiário. E aqui vai uma confidenciazinha: o perigo aumenta quando percebemos que aqueles que deveriam servir como faróis ou esperança se deixaram corromper. No sentido amplo da palavra.

Galã da 4a idade

Mas pode ficar tranquilo. Não caí em depressão nem nada. E nisso muito me ajudou (sem saber) meu colega Marcos Tosi. Há algumas semanas, no “Última Análise”, por algum motivo o Tosi perguntou ao André Marsiglia como o comentarista, advogado, militante da liberdade de expressão e galã da 4ª idade conseguia se expor a tantas notícias ruins sem cair em depressão.

O Marsiglia deu uma desconversada na hora, mas eu, que sou um chato, insisti na pergunta. E além das profilaxias comuns, como a fé e a vida em família, Marsiglia disse que o simples fato de (ainda) poder se expressar o impedia de cair em depressão. No sentido amplo do termo. Aquele desânimo, aquela sensação de que não adianta falar mais nada, aquela vontade de mandar tudo à pequepê.

Tsunami

Aí está um belo exemplo do poder terapêutico da bendita e bem-dita/escrita palavra. Não essa que se diz a mesmo, em torrentes alternadas de indignação e obviedade, sem qualquer cuidado e visando apenas a autopromoção. Marsiglia usa a palavra ponderada, que faz lé com cré; a palavra que vulnerabiliza e nos faz refletir sobre nossos muitos defeitos e erros. Muitos. Mas muitos mesmo.

Comigo, no entanto, acontece o contrário. Quando sinto o tsunami do noticiário negativo se aproximando, se aproximando, se aproximando… tchuá! Kabum! Ploft. Blup. Quando o tsunami quebra na praia da minha ingenuidade a muito custo cultivada, e eu me percebo semiafogado no cinismo e niilismo avassaladores, em meio a detritos políticos e dejetos éticos, me agarro ao primeiro silêncio que encontro pela frente. Ufa! Aí tento relaxar e fico só observando o desfile, não!, o cortejo daqueles que um dia já tiveram alma, mas que hoje não passam de zumbis escravizados pelo desejo de popularidade, pelo dinheiro e pelo poderzinho.

O que foi aquilo?!

Foi o que aconteceu nesses últimos dias: a tristeza defendo a nojo deu lugar ao silêncio, que transformou aquela mistura abjeta em pena. É o que me salva em todas as ocasiões e por isso recomendo: sempre que você sentir que sucumbirá à maldade que nos cerca, tente se lembrar de que o tsunami é imparável, mas você não precisa desistir de sobreviver se rendendo a ele. Você não precisa sacrificar seus princípios em troca de popularidade, de grana ou da enganosa sensação de que você manda e os outros obedecem.

Quando tudo ao seu redor for materialismo, solidão, egoísmo e ruído da guerra ideológica travada por imbecis, agarre-se à fé, à família, às amizades e ao silêncio. São essas coisas que, ao menos no meu caso, parecem botar tudo em perspectiva. Digo, essas coisas e também os sermões do Padre Antônio Vieira. Cara, você não tem ideia do quanto aquilo é bonito e muda a vida e faz tudo valer a pena. Mesmo depois de assistir ao depoimento da tal da Virgínia Fonseca na CPI das Bets. O que foi aquilo?!

noticia por : Gazeta do Povo

15 de maio de 2025 16:02

Ouvir Shalom News

LEIA MAIS

WP Radio
WP Radio
OFFLINE LIVE