Alasdair MacIntyre, que questionou individualismo moderno, morre aos 96 anos 

O filósofo britânico Alasdair MacIntyre morreu nesta quinta-feira (22), aos 96 anos. Um dos autores mais influentes da sua geração, ele foi particularmente importante para nomes do conservadorismo — embora não definisse a si mesmo como um conservador.

A obra mais conhecida de MacIntyre foi “Depois da Virtude”, lançada em 1981. No livro, ele diagnostica o que acredita ser um problema na visão de mundo contemporânea: o desprezo da civilização moderna pela moralidade e a virtude. O individualismo liberal, ele afirma, apagou o senso de propósito sem o qual o homem não consegue manter uma vida plena. 

MacIntyre faz um contraponto entre Nietzsche, com seu aparente niilismo, e Aristóteles, que dedicou grande parte de sua obra a promover o cultivo das virtudes e o bem comum. 

A tradição individualista, ele diz, não foi capaz de articular uma visão moral coerente. “Ainda nos falta, apesar do empenho de três séculos da filosofia moral e de um século da Sociologia, um enunciado coerente e racionalmente defensível de um ponto de vista individualista liberal”, ele diz na conclusão do livro. MacIntyre defende um retorno à tradição aristotélica de uma busca racional pelas virtudes. 

“O que importa neste estágio é a construção de formas locais de comunidade, dentro das quais se possa sustentar a civilidade e a vida intelectual e moral durante a nova Idade das Trevas que já estamos vivendo”, diz ele.  

O livro termina com um apelo: “Estamos esperando, não Godot, mas outro – 

sem dúvida bem diferente — São Bento”. 

São Bento de Núrcia foi um dos responsáveis pelo início da vida monástica na Europa. Conforme os resquícios da civilização romana se esvaiam, ele optou por se retirar para um local ermo e iniciar uma comunidade onde a herança cristã (e, de forma secundária, clássica) pudesse ser preservada. 

O desfecho do livro influenciou Rod Dreher a produzir outro best-seller, “A Opção Beneditina”. Na obra, lançada em 2017, o autor americano defende que cristãos se organizem em comunidades próprias como forma de sobreviver ao niilismo à sua volta.

MacIntyre, que transitou entre o protestantismo e o ateísmo antes de se tornar católico nos anos 1980, ele foi professor em universidades no Reino Unido e nos Estados Unidos — incluindo Oxford e Princeton. 

Uma das últimas aparições públicas de MacIntyre aconteceu em 2021, quando ele participou de uma conferência na Universidade de Notre Dame, no estado de Indiana. Em sua fala, ele reforçou a crítica à visão moderna de justiça, que parece ter trocado a noção de um bem comum por um individualismo raso.

“Julgar isto ou aquilo como justo ou injusto pressupõe alguma explicação prévia do que é ser membro de uma família, escola, local de trabalho e comunidade política próspera. E na medida em que houver desacordo e conflito insolúveis sobre o que significa para famílias, escolas, locais de trabalho, mercados, bairros e comunidades políticas prosperarem, apelos à justiça cairão em ouvidos moucos”.

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noticia por : Gazeta do Povo

24 de maio de 2025 14:13

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